terça-feira, 27 de julho de 2010

Universidade da Lusofonia

UNIVERSIDADE  DA LUSOFONIA
NO BRASIL – UNILAB

         J. Jorge Peralta

1. Deve ser saudado, como auspicioso, para a Lusofonia mundial, a criação, no Brasil, Ceará, da UNILAB – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. É auspicioso o Governo do Brasil assumir uma iniciativa de tal envergadura, para reforçar  ainda mais  os compromissos mútuos dos países da CPLP. Isto só trás vantagens para todos, podendo dar mais  força internacional  ao bloco da Lusofonia.
A UNILAB foi criada pela Lei nº 12.289, de 20/07/2010.
Segundo estabelece a Lei que a criou, a UNILAB tem por missão específica: formar recursos humanos para  contribuir para a Integração ente o Brasil e os demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, especialmente os países africanos, bem como promover o desenvolvimento regional e o intercâmbio cultural, científico e educacional. (Art. 2º).
A Lei acrescenta: A UNILAB caracterizará sua atuação pela cooperação internacional, pelo intercâmbio acadêmico e solidário com os países membros da CPLP, especialmente os países africanos, pela composição do corpo docente e discente (...) ( § 1º do Art. 2º).
A Universidade Internacional da Lusofonia está sendo instalada no Município de Redenção, no Ceará, distante 55 Km de Fortaleza. Está na Região do Brasil mais próxima à África.
A UNILAB garante intercâmbio com universitários de toda a CPLP: de Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
Foi de estranhar o fato de a CPLP não ter sido contactada para prestigiar o evento, com eventual parceria, ao menos culturalmente. A Universidade não pode ser Internacional e de Integração da Lusofonia só no nome. Tem de ser, no espírito e de fato.

2. Por outro lado, acreditamos que a localização não é a mais adequada. Redenção tem como trunfo, o fato de ser a primeira cidade brasileira que aboliu a escravidão, no interior do Ceará. Com todo o respeito, não considero motivo suficiente para sediar uma Universidade Internacional, no século XXI,  a não ser para ficar às moscas, na sua perspectiva internacional.
Imagem Google
A UNILAB não tem que cultivar eventuais ressentimentos; precisa investir  na solidariedade e na prosperidade dos povos lusófonos.
A UNILAB deve fazer parte das políticas públicas do Brasil, para a União dos Povos Lusófonos, com mais prosperidade. O local dificilmente atrairá os grandes mestres do mundo lusófono.  Não há, por perto, um grande centro de cultura.
Fazer uma Universidade não é isolar-se do mundo real. É antes viver experiências concretas. Estar onde a “vida” viceja...
Há lugares certos e lugares inadequados para sediar uma Universidade Internacional. Mas isto parece não ter sido levado em conta pelos  “estrategistas”.

O lugar mais adequado seria certamente, Salvador, na Bahia, ou Recife/Olinda, ou talvez Fortaleza ou Natal, por terem tradição cultural. Grandes atrativos seriam oferecidos pelo Rio de Janeiro e São Paulo; esta é, de longe,  a maior cidade da Lusofonia do mundo e a locomotiva econômica do Brasil, e ainda um paradigmático pólo de desenvolvimento econômico e cultural.
Se a UNILAB vingar, em sua linha internacional, como se espera, brevemente precisará mudar-se para cidade onde haja mais condições para sediá-la.
Em Redenção ficaria bem  uma Universidade Federal para atender toda a Região. Este projeto cabe lá. Assim sendo proponho que ali funcione  uma Universidade Federal.
Que a UNILAB seja logo transferida para uma região mais atrativa e chamativa, em relação aos povos africanos da Lusofonia e a toda a lusofonia internacional.

3. Esperamos que a nova Universidade possa se dedicar efetivamente à formação de pessoas competentes  e responsáveis, humana e cientificamente capazes e preparadas para servir ao seu povo, levando-lhe mais prosperidade e bem-estar.  Que não seja mais uma “agência” de diplomas, com precários conhecimentos. Isto desmoralizaria o Brasil, neste ponto.
Que os cargos sejam ocupados, não por seus ocupantes serem deste ou daquele partido, mas porque são pessoas adequadamente preparadas.
Que a política partidária esteja longe da UNILAB, mas que se aprenda a Política com “P” maiúsculo. Que prepare pessoas conscientes, críticas, criativas e dedicadas ao bem comum. Do contrário, não é Universidade e nem é Internacional.
Que seja elaborado, entre todos os países lusófonos uma Carta de Princípios, onde sejam estabelecidos padrões de qualidade do Ensino Superior, algo similar  à Declaração de Bolonha. Talvez a Carta de Coimbra... (Isto já propous em outra ocasião).
Que não se ponha lá gente para aumentar claques de governo nenhum, nem de partidos. A Lusofonia precisa estar além de ideologias ou de partidos. Precisa ser apartidária, mas decididamente atuante, a serviço dos Povos Lusófonos, e do Brasil, em particular.
Uma Universidade nunca pode ser feita para um governo ou um partido; a Universidade é para todo o povo; para a nação; para todas as nações lusófonas. Para um Povo complexo e plural, sem discriminações.
O interesse da nação, aqui, está acima dos interesses do governo. Esta é a grandeza do Espírito Universitário, que às vezes as pessoas apequenam, por terem ideias pequenas.

Enfim, quaisquer que sejam as intenções do atual governo, esta poderá ser uma iniciativa positiva para a Lusofonia Mundial, desde que seja sediada  em local, cultural e socialmente, mais adequado, com reais atrativos cosmopolitas e universitários.
No Brasil não faltam lugares ótimos para sediar  uma iniciativa de tais dimensões, como vimos acima.

4. Bem haja o governo brasileiro se conseguir instalar a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia, com espírito efetivamente universitário e dirigida por grandes mestres que engrandeçam e alavanquem  a alta competência da Lusofonia Mundial, que vai muito além dos oito  povos  de Língua Portuguesa. Que efetivamente contribuam para a ampla fraternidade e prosperidade dos Povos Lusófonos.
Em princípio, esta é uma iniciativa a ser festejada, com muita esperança.

Portugal já podia ter implantado uma Universidade com proposta idêntica.
No entanto, não esqueçamos que as Universidades brasileiras e portuguesas já formam, anualmente milhares de profissionais, em todos os ramos do saber, de cidadãos provenientes dos Povos Lusófonos, principalmente dos países africanos.
Só a USP forma, anualmente, muitas centenas de alunos dos Povos Lusófonos. A solidariedade e a fraternidade lusófona existe, bem viva, em muitas universidades brasileiras e portuguesas. Ainda bem.
Criar uma Universidade voltada, em princípio, para a Lusofonia Mundial já é um passo adiante.

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