terça-feira, 1 de dezembro de 2009

sabiá 2

SABIÁ LARANJEIRA

Uma Pequena Epopéia Doméstica


J. Jorge Peralta

Já sabemos que o Sabiá Laranjeira vive muito bem nos campos e nas cidades, por perto dos humanos. Para toda a gente é um companheiro sempre presente, com seu canto, à distância.
Vive muito à vontade nos quintais e em ruas e praças, sem ser molestado.
De madrugada até de manhã e ao fim da tarde, solta seu canto mavioso nos altos das árvores, das palmeiras e nos muros e telhados das casas. Mais espaçadamente, canta o dia todo
Seu canto é tão marcante, que meu filho mais velho, por volta dos quatro anos de idade, (trinta anos atrás), foi chamar os pais ao amanhecer, justificando: “levanta, pai, os passarinhos já estão cantando”. Foi tão marcante esta frase que nunca mais a esqueci. Era o Sabiá, rompendo a madrugada, com seu canto matinal. Vale a pena acordar para ouvi-lo.
Veja agora uma história real:
Neste ano, um casal de Sabiás Laranjeira resolveu fazer seu ninho, numa azaléia, a uns 2,5 de altura, bem ao lado da sala de jantar.
Ontem, de manhã, Inez me chamou:
Levanta, vai cuidar do filhote do Sabiá, que caiu do ninho, antes que o cachorro o pegue. Fui logo. Fiquei observando o que se passava, atrás da porta de vidro. O cachorro ainda dormia ao lado...
Para se esquivar, o sabiá-filho saiu correndo, desengonçado. Pulou num balde, sem saber que tinha água, e lá ficou se debatendo até que cheguei para salvá-lo do afogamento. Pus o dedo indicador debaixo de suas patas e ele, sentindo a tábua de salvação, logo aí se agarrou, firme.

Assim o levei até ao ninho, tranqüilo e confiante. Lá chegando, outros dois filhotes que lá estavam, sem que o soubéssemos, de um pulo, voaram para fora. Salvara um e tinha agora mais dois Sabiás para pôr a salvo, levando-os de volta ao próprio ninho.
Com facilidade, Inez e eu, levamos a missão a bom termo. Os três filhotes quase prontos para voar, no começo da tarde, já se postaram do lado de fora do ninho.
Aguardavam os pais para lhes dar instruções e para os alimentarem.
À hora certa levantariam vôo inaugural da liberdade.
Do alto da palmeira que está bem perto, ou em cima do telhado, os pais iam dando aos filhos as instruções finais e animando-os para ousar sem temor, com um canto estranho, inusitado, quase coaxando...
No final da tarde, antes de o sol se pôr, dois filhotes deram uma volta pelo gramado com os pais e levantaram, juntos, o vôo esperado.
Um último filhote, no ninho se quedou.
Hoje, logo de manhã, já restabelecido, bateu asas e voou, junto com os pais, que vieram para dar-lhe confiança. Com os irmãos todos se juntaram na pitangueira.
Nova vida se inaugurava nos céus e pelos quintais de São Paulo.
Mais três Sabiás-Laranjeira irão orquestrar o raiar da madrugada e cantar ao pôr-do-sol, para encantar mais a natureza e alegrar de canções esta grande São Paulo, a maior cidade Ocidental.

De madrugada ao anoitecer, o canto estridente e harmonioso do Sabiá Laranjeira ecoou por toda esta grande cidade, de Norte a Sul e de Leste a Oeste, por todos os quintais e jardins, por ruas e praças, deixando mais feliz a vida de toda esta gente que não para. O sabiá também não para.
(01/12/2009)

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